A noite de lançamento do livro O Negro no Século XXI, da juíza baiana Luislinda Valois, ocorrida na última quarta-feira (26), foi marcada por homenagens. Na abertura da seção de autógrafos, 20 adolescentes do projeto Coral da Cultura Afro-Brasileira, a convite da ONG Nação Guerreira Educação, fizeram uma apresentação surpresa para a magistrada e presentearam o público com interpretações de três composições, entre elas Meninos do Pelô e o Hino do Congresso Nacional Africano. “Para essas crianças, prestigiar a juíza Luislinda, neste momento tão especial, tem um significado muito grande. Ela é um exemplo de superação para estes jovens negros e de periferia”, declarou Nilson Zuanes, idealizador do projeto.
A seção de autógrafos atraiu centenas de pessoas que esgotaram os livros em apenas uma hora de evento, na livraria Saraiva Megastore, do Salvador Shopping. “Foi e está sendo uma felicidade enorme perceber a repercussão que este trabalho alcançou aqui em Salvador. Espero que muitas pessoas possam refletir sobre as questões raciais, que parece defasada, mas é ainda tão atual, especialmente na sociedade baiana”, comentou a juíza Luislinda Valois.
Entre os mais emocionados do público, estavam sua irmã Lauzalina da Luz Dias, mestre em Educação, e seu filho Luis Fausto Valois, Promotor de Justiça dos Direitos da Educação de Aracaju (SE). “Minha mãe já sofreu muito, mas seu maior mérito é ter enfrentado todas as dificuldades, tornando-se um exemplo de superação, não apenas para família e amigos, mas para todo o povo negro”, diz Luis Fausto Valois.
Amigos, empresários, profissionais de imprensa, autoridades e pessoas anônimas, que se identificaram com a trajetória da primeira juíza negra do país, também prestigiaram o evento. Entre os presentes destacam-se: a presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, a desembargadora Silvia Zarif, o professor e advogado, José Raimundo Sant´Anna, o desembargador, Lourival Ferreira, a professora, Ivete Sacramento, o médico, José Bonfim da Luz Alves, Mônica Wagner, entre outros.
A coragem e ousadia da autora foram aspectos destacados pela vereadora Tia Eron. “Escrever sobre o negro no Brasil não traduz o ineditismo da obra. O que é novo é a coragem, resistência e perseverança da juíza ao romper modelos já estabelecidos em prol de uma causa maior, a questão étnica”, ressaltou. A Secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Luiza Barrios, também destacou a singularidade do livro O Negro no Século XXI. “Esta publicação tem uma importância particular, pois vem de uma pessoa que ocupa um cargo onde poucos negros têm acesso. Ela, na posição que ocupa, é porta-voz destas pessoas e assume o compromisso de motivá-las a buscar alcançar os mesmos alvos que ela conquistou”, diz a Secretária.
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Na obra O Negro no Século XXI, a primeira magistrada negra do país convida o leitor a redescobrir a história dos afro-descententes no Brasil com o discernimento de quem conhece profundamente suas origens. Como muitos brasileiros, ela sentiu na pele o peso do racismo ainda jovem quando foi “aconselhada” por um professor a deixar de estudar para cozinhar feijoada na casa de brancos. Em um legítimo grito de protesto, a cada parte do livro, a autora pontua, de forma simples e direta, o processo histórico causador da desigualdade social e racial em nosso país. Dividido em 18 capítulos, a obra é um avocar para uma reflexão sobre o retorno que a sociedade tem dado ao povo negro, em vista de sua contribuição social, econômica e cultural, ao longo dos séculos. “Quis mostrar à sociedade que pouco mudou na vida do afro-descendente aqui no Brasil. Infelizmente, muitas pessoas têm uma percepção camuflada”, afirma. Resultado de uma ampla pesquisa, outros aspectos como lazer, educação, cultura, adoção tardia de crianças e esporte são abordados na ótica de quem enxerga e convive com o preconceito cotidianamente.
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